O
Rio vive um momento de muitos projetos e obras acontecendo ao mesmo
tempo, uma verdadeira transformação que certamente está mexendo nos usos
e costumes da vida da Cidade. Uma parte justificada como
contrapartida para os compromissos assumidos pela Prefeitura de
proporcionar infraestrutura compatível com a Copa do Mundo de Futebol em
2014 e as Olimpíadas de 2016.
O
que me preocupa é a grande distância que se coloca entre aquilo que é
estudado, projetado e planejado como ideal e o que é realmente
recomendável transformar, pois estamos tratando de patrimônios cultural,
social, ambiental e paisagístico, ou seja, aquilo que é real.
É imprescindível
que as mudanças, bem-vindas, combinem os usos e costumes do
cotidiano que fez deste local uma Cidade com vida própria e
personalidade, exatamente o que possibilita que ela seja o que é.
Aproveitei o recesso da Câmara para visitar a Zona Oeste, ver como estão essas obras e acompanhar a realidade da cidade hoje.
Constatei
que o Rio já virou um gigantesco canteiro de obras. Obras não só
públicas, mas uma infinidade de edificações corporativas surgindo em
áreas antes compostas por sitiantes e casas muito simples. Vi muitos
quilômetros de vias sendo construídas, ampliadas e reparadas ao longo do
meu trajeto, mas vi também muitas árvores centenárias removidas em nome
desse progresso. Regiões que por muitas vezes visitei com minha
família, na busca de paz e tranquilidade, foram completamente
modificadas, perdendo sua característica natural.
Preocupado
com o impacto que essas construções estariam causando na população,
parei para conversar com as pessoas e constatei que elas vivem um clima
de incerteza muito grande. Muitas acreditam que essas obras trarão
melhorias para a região onde moram, mas não sabem dizer a que preço isso
se dará. Uma coisa é certa, nada ali será mais como conhecemos um dia.
Será
que para sediar eventos tão notáveis como a Copa do Mundo e as
Olimpíadas teremos como compensar todos os estragos ambientais deixados
com o passivo dessas obras?
Será que teremos mesmo um plantio compensatório de toda a vegetação perdida nas áreas degradadas?
Teremos continuidade na qualidade de vida da população dessa região como outrora?
São perguntas que gostaria de ter respostas.
Em
visita a um templo budista da região, constatei a preocupação de seus
dirigentes quanto à perda de parte dos terrenos particulares por
consequência do alargamento de estradas, do desmatamento de vegetação
nativa e do impacto que isso pode ocasionar não só no comércio, mas na
sociedade como um todo.
Pensei em outras situações também importantes do cotidiano do Rio. Basta analisarmos algumas das matérias hoje nos jornais:
Depois
da poda ou corte das árvores na cidade, feitas pela Comlurb, os
resíduos são levados para o Caju e depois Aterro Sanitário, quando
consta que podiam ser reaproveitados (são podadas em média 3.500 árvores
por mês e retiradas 400), ou seja, o assunto não tem uma solução
ambientalmente sustentável, embora essas palavras, ambientalmente e
sustentável, parece que foram incorporadas aos discursos institucionais e
também da sociedade.
Na
Ilha do Fundão, toneladas de cimento, tijolos, madeira e ferro que
sobraram da implosão do "perna seca", parte do Hospital Clementino Fraga
Filho, em dezembro de 2010, continuam no mesmo lugar, embora tenha
sido anunciado à época que esses resíduos seriam vendidos e a renda iria
para os centros de convivência de idosos na região Serrana, uma solução
sustentável que até o momento não aconteceu.
Cinco
meses depois de transferida do Tribunal de Justiça para um imóvel
cedido pelo município no bairro do Santo Cristo, a Emerj (Escola da
Magistratura) anuncia que pretende voltar ao centro do Rio. Houve queda
no número de matrículas e desistência de professores em dar aula,
configurando uma não adaptação à mudança que aconteceu em meio a
instalações nem ao menos concluídas. Era uma adesão ao projeto de
revitalização da área do Porto na Cidade, mas não se contemplou que as
pessoas precisavam nele inserir e adequar o seu cotidiano.
Pesquisadores
e arqueólogos do Instituto de Arqueologia Brasileira, local de formação
de pesquisadores, referência para a Arqueologia do nosso país,
instalada na avenida Dom Hélder Câmara, Del Castilho, num casarão
conhecido como casa da Fazenda do Capão do Bispo, estão circulando
abaixo-assinado eletrônico para não terem que deixar o prédio que a
instituição ocupa desde 1961, pois já foram informados de que não há
mais interesse do Estado em manter sua ocupação naquele local e agora há
uma promessa de transformar o prédio em centro cultural: destina-se ao
local um novo uso, desalojando o antigo uso que o tornou o que é,
exatamente um centro de referência, pesquisa e cultura.
Com
todos esses exemplos de obras que impactam a cidade de forma não
sustentável, fico apreensivo, como integrante do Partido Verde, de ver o
pouco ou nenhum cuidado em dimensionar o passivo deixado como resultado
desse progresso. Seguindo este caminho, temo que, num futuro próximo,
teremos muito que responder a nossos filhos e netos sobre o que fizermos
com a cidade deles.
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