Passada a agitação do período eleitoral, volto aos trabalhos
nesta casa, com muita satisfação. Há muitos projetos de interesse da sociedade
que precisam ser debatidos e votados.
O debate, aliás, foi o grande ausente neste período
eleitoral. Pouco se falou sobre propostas concretas para a cidade. Talvez devido ao pouco tempo disponível para os candidatos no horário político e às
regras excessivamente rígidas dos encontros da televisão.
Essa ausência de discussões beneficiou diretamente os
candidatos que apoiam o atual prefeito. Sem tempo para as críticas aos pontos ruins, sobressaíram apenas os pontos fortes da atual administração. O resultado
disso foi uma ampla vitória da maioria governista, que passa a ocupar 70% das
cadeiras da Câmara Municipal.
O que mais chamou atenção, no entanto, foi o grande número de
abstenções, que, somado aos votos brancos e nulos representou praticamente um
terço do total de eleitores. No Brasil, mais de 22 milhões de pessoas não votaram. Votos
em branco e nulos somaram quase 13 milhões. Mesmo considerando os efeitos da Lei
da Ficha Limpa, que indeferiu várias candidaturas, é um número altíssimo.
No Rio, mais de um milhão e 600 mil pessoas escolheram não
participar do processo. Esses índices precisam ser analisados com atenção pela
classe política, pois representa, entre outras coisas, a descrença do povo nos políticos, em geral.
É preciso que se discuta um novo modelo político para o país. O
grande número de legendas há muito tempo não representa ideologia alguma,
servindo apenas a interesses comerciais, como tempo de televisão; à uma divisão do
poder, com o loteamento de secretarias; e a projetos pessoais de poder.
Mesmo discordando dessa opção, pois acredito que o voto é a
maior arma do cidadão para mudar o país, é preciso levar em consideração que
uma parcela cada vez maior da população, que, em vez de escolher o candidato
que tenha propostas que estejam mais afinadas com o seu pensamento, prefere não
escolher ninguém para representá-la.
Isso é muito grave, e coloca em risco o próprio estado
democrático de direito.
Temos que discutir, tanto em nível nacional quanto municipal
que tipo de política estamos fazendo. A política da inclusão, com a participação
ampla da sociedade na busca de dias melhores para todos, ou o modelo que visa
beneficiar apenas um pequeno grupo, que tenta, a todo o custo, se manter no
poder.
Uma boa solução para evitar esse desgaste na relação entre
políticos e sociedade seria o voto distrital, com o fortalecimento de vínculos
e possibilidade de maior cobrança por resultados, garantindo maior
representatividade, impedindo que políticos sem compromisso com a população
tenham vida longa.
O povo do Rio deu alguns recados nesta eleição. Os políticos
conseguirão decifrá-los? É importante tentar, sob pena de termos nossa
legitimidade questionada pelas ruas.
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