No momento em que se discutem maneiras de
melhorar a mobilidade dos grandes centros urbanos, duas notícias merecem
análise: o começo das obras de demolição da Perimetral e a inauguração de um
complexo de torres comerciais no Centro.
A despeito das reclamações de
milhares de pessoas, que dependem da via para chegar ao Centro e à Zona Sul, a
prefeitura já decidiu como fará a derrubada do elevado. De acordo com o plano,
apenas uma faixa da Avenida Rodrigues Alves estará aberta ao trânsito entre a Rodoviária
e a Cidade do Samba. O prefeito já disse que o desconforto será grande, mas que
quando tudo ficar pronto, a vida vai melhorar.
Quero muito acreditar nisso,
mas, baseado no que vemos, a coisa só tende a piorar. Estamos investindo cada vez
mais dinheiro para abrir espaço para carros, sem considerar o transporte de
massa. Sabemos que nessa obra há a previsão de instalação de uma rede de veículos leves sobre trilhos (VLTs), mas apenas isso não será suficiente. Enquanto
vemos nos jornais o espantoso desenvolvimento da rede de metrô de cidades
chinesas, como Xangai, com mais de 50km construídos por ano, o que dizer do Rio?
Se, por um lado, a construção das
torres na Rua do Senado trouxe novos ares para uma região degradada, com a
reforma de casarões e a chegada de lojas, restaurantes e livrarias, por outro,
o grande número de automóveis que passará a circular por ali vai causar ainda
mais transtornos para o já saturado trânsito do Centro.
O complexo de prédios contará
com duas mil vagas de estacionamento. A construtora argumenta que uma pesquisa
entre funcionários da Petrobrás mostrou que 70% deles se desloca para o
trabalho de carro. Tantas vagas de estacionamento a mais podem se tornar um
perigoso estímulo ao transporte individual, colocando em risco qualquer plano
de mobilidade.
É importante lembrar que no terreno
onde os prédios foram construídos estava prevista a construção da estação Cruz Vermelha
do metrô. A comunidade lutou, batalhou, mas o governo do estado ignorou os
pedidos pela retomada da construção do prolongamento da linha dois até a Carioca,
passando pela Cruz Vermelha e Catumbi, optando pelo compartilhamento da linha
entre Central e Botafogo.
A estação traria enorme
conforto a milhares de moradores, trabalhadores e pacientes dos inúmeros
hospitais da região, que não precisariam mais se deslocar até a estação mais
próxima, que é a Central. Essa é uma luta de décadas, e que precisa voltar
agora, quando um grande contingente de pessoas vai sobrecarregar o já caótico
trânsito da região.
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