Sou médico nefrologista, com quase
35 anos dedicados exclusivamente à rede pública de saúde. Por ter participado de
muitos transplantes, conheço bem a dor dos pacientes e suas famílias.
Quando defendo a causa da doação de
órgãos, muita gente critica o programa, acusando-o de ser pouco transparente.
Hoje vou explicar como funciona o programa de transplantes.
O procedimento pode ser feito com
doadores falecidos ou vivos. Entre os vivos, existem dois grupos. Os
relacionados (como pai, mãe, irmãos) e não relacionados (esposa, marido,
cunhado etc.).
Alguns exames precisam ser
realizados, como o grupo sanguíneo, a dosagem de creatinina e glicemia, entre
outros tantos: tudo para diminuir a possibilidade de rejeição e para tentar
garantir a saúde futura dos doadores.
Quando o doador é falecido, então,
o esquema é ainda mais complexo. Dois médicos precisam atestar a morte
encefálica do indivíduo, com exame de fluxo sanguíneo, em intervalos de seis
horas.
A essa altura, outra equipe, já munida dos dados clínicos do
doador, busca o receptor mais adequado, na lista oficial. Não existe mais ordem
cronológica. O que vale é a compatibilidade genética entre doador e receptor, com
base nos grupos sanguíneos e sistema HLA (que determina genes envolvidos com a resposta imune em diversas condições,
como doenças, transplantes e reações a medicamentos.).
No Rio de Janeiro, os hospitais
responsáveis pelos transplantes são o Pedro Ernesto, o Hospital Geral de Bonsucesso,
o Hospital da UFF, o Hospital Silvestre e o Clementino Fraga Filho, da UFRJ, no Fundão.
Durante todos estes anos, com
pouquíssimas ressalvas, pude conferir a seriedade com que o programa de
transplantes é tratado. O grande desafio é fazer a aproximação de maneira
correta com as famílias, em hora dificílima, com a perda de entes queridos.
Além da dor da perda, há o medo de
deixar o doador falecido desfigurado. Nada disso acontece. O corpo é tratado
com todo o respeito. Outros fatores, como questões religiosas e morais, também
influenciam a decisão das famílias na hora de permitir ou não a doação. Vale
dizer que nenhuma religião impede a doação.
Mas o que vai definir mesmo é a
decisão pessoal de cada um, o que costuma ser respeitado pelas famílias. Por
isso, você, que se identifica com a causa e deseja ser doador de órgãos, deve
comunicar esse desejo à família.
Os órgãos que podem ser doados são
os pulmões, o coração, o fígado, os rins, o pâncreas e o intestino. Entre os tecidos, as
córneas, a pele e os ossos.
Para encerrar, convido a todos para
participar das atividades do Dia Nacional do Doador de Órgãos, nesta quinta-feira, a partir das 08 horas, na frente da Câmara do Rio. Doe órgãos, converse com sua
família.
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